sexta-feira, 28 de julho de 2017

ABZÛ - Pensando sobre o jogo



Olá! Bem-vindo ao canal TheAsaGames! Eu sou o Asa e hoje vou falar de Abzû, jogo desenvolvido pela Giant Squid e lançado em 2016 para PS4, PC e Xbox One.

Abzû é um jogo bastante interessante, que se encaixa numa tendência muito bem recebida na crítica de jogos, que é a de tentar expressar significados filosóficos em jogos curtos e com mecânicas relativamente simples, sempre pontuados por premissas vagas e visuais e sons dos mais poderosos. Alguns jogos desse tipo são Proteus, Flower e Journey, de que eu já falei no canal, mas também outros, como Entwined, jogo de PS4.

Entre todos estes, Abzû apresenta maior semelhança com Flower, apesar de a imensa maioria das discussões acabar se centrando nas semelhanças com Journey. O fato é que muitos dos desenvolvedores responsáveis por Abzû também trabalharam nos jogos da Thatgamecompany, de onde saíram Flower e Journey e, por isso, a comparação é mais ou menos inevitável, mas realmente eu acho que o foco deveria estar em perceber o quanto esses dois jogos fazem parte da estrutura de Abzû.

Estruturalmente falando, as semelhanças com Journey se baseiam um pouco no ritmo da história. Se você se lembra do meu vídeo sobre o jogo e sobre a jornada do protagonista lá, você reconhecerá as semelhanças em Abzû instantaneamente. Na verdade, chega até a beirar a repetição do que se vê ali.

Agora o gameplay do jogo certamente deve mais a Flower. Em Abzû, você controla uma espécie de mergulhador que passeia pelo oceano, observando pequenos ecossistemas e indo a caminho de algo que, a princípio, não é claro. Há algumas atividades que o jogador pode fazer, como coletar itens e desbloquear alguns peixes, mas o que o jogo espera é que você se entregue à observação do cenário.

Há um cuidado impressionante com o design dos peixes, o seu comportamento varia conforme a espécie, há criaturas de todos os tamanhos, elas reagem diferentemente ao jogador e têm suas próprias preocupações, como fugir ou abocanhar um peixe menor. Graficamente, se você prestar muita atenção, você percebe que o jogo não é foto-realista, mas há uma estética coerente e próxima o bastante para o peixe ter uma identidade bem próxima da original, sem demandar muito em termos de textura e precisão no design. O importante é que, dentro daquele mundo, eles realmente parecem únicos e bem feitos.

O fato de eles se comportarem de forma única cria no jogador uma curiosidade sobre como cada peixe vai reagir à sua proximidade, e o jogo tem uma mecânica de se agarrar aos peixes maiores, o que permite manter um contato com eles e relaxar enquanto eles te levam pelo cenário, o que é sempre muito legal.

Os cenários também são excelentes. Da mesma forma que os animais, a estética não é foto-realista, mas há uma excelente direção de arte que torna cada ecossistema uma coisa muito rica, e que empolga o jogador sempre que ele chega a um novo local e começa a conhecer os detalhes. Para um jogo com a proposta de fazer o jogador passear tranquilamente e observar criaturas e locais, Abzû certamente colocou a dose certa de criatividade na sua estética e na inteligência artificial.

O mesmo vale para a música, que é muito tocante e confere a trilha certa para aprimorar o momento do jogo. Eu diria que talvez ela pese um pouco demais para o bombástico do que o que a gente encontra em Journey, mas ainda assim ela não chegou ao exagero. Acaba sendo até adequado, porque a trama de Abzû pretende ter um fôlego maior do que os outros jogos de que eu falei.

A história é contada mais por cutscenes silenciosas e por pinturas nas paredes de algumas construções submersas que o jogador encontra ao longo da jornada. Não há palavra alguma no jogo, apenas peixes nadando por aí, e o protagonista nadando com um objetivo que o jogador nunca tem exatamente claro. No meio do caminho, o jogador encontra um tubarão que ataca um dos estranhos robôs que o protagonista pode reativar, e de vez em quando ele aparece para alguma ação importante, mas isso é o máximo que o jogador vai ter como companheiro em Abzû.

Eu vou tentar não entrar muito profundamente no ramo dos spoilers em relação ao jogo, até porque ele é muito baseado em surpresas, mas se você pretende acompanhar o jogo inteiro sem spoilers, é melhor parar por aqui. Eu agradeço a sua visita e a gente se vê numa próxima análise. Agora, se você não se importa, vamos lá.

Cada ecossistema que o jogador visita acaba com o protagonista passando por um estranho robô com o formato de uma pirâmide gigante. Isso, somado aos pequenos robozinhos que o jogador pode ativar, sugere que há uma presença tecnológica avançada no mundo de Abzû, o que contrasta fortemente com os ecossistemas que parecem praticamente intocados pelo homem.

Por vezes, há resquícios de tecnologia, mas é como aquelas imagens de navios afundados há décadas, em que a natureza faz parecer que eles sempre fizeram parte do local. Porém, essa dinâmica vai sendo alterada conforme o jogador progride. E esta é a dinâmica central na narrativa de Abzû: a relação entre tecnologia e natureza, a qual já era muito importante em Flower.

Porém, Abzû coloca um peso filosófico maior nessa relação, tornando-a um pouco mais complexa e, principalmente, importante para o homem como entidade. Enquanto Flower soa quase como um aviso de que a natureza está lá fora e que é preciso trazê-la de volta às nossas vidas, Abzû fala da presença da natureza como parte fundamental do ser humano, e de que é necessário estar em harmonia com ela para obter uma força vital maior e ter acesso a uma beleza que não se encontra de outra forma.

Os momentos mais bonitos de Abzû são experimentados quando o jogador pode se sentir um visitante nos ecossistemas, contemplar tudo nos mínimos detalhes e se permitir aproveitar o bombardeio de sensações que o visual, a música e a inteligência artificial propiciam. É quando ele é um com a natureza.

Entretanto, existem alguns pontos nos ecossistemas que precisam ser reconstruídos, e isso só é possível graças a alguma tecnologia da antiga civilização que habitava aquele local agora submerso. Por isso, embora muitas vezes a tecnologia soe fora de lugar e até hostil em diferentes momentos, ela funciona também como o meio com que a natureza pode se renovar.

Assim, a natureza e as produções humanas se encaixam numa dinâmica de autorrenovação: embora a presença do homem possa causar danos à natureza, ele também pode reconstruir a natureza, pode desempenhar um papel fundamental nela, e ela pode oferecer a ele uma beleza e uma renovação estética que é inigualável.

Assim, Abzû tem uma mensagem de preservação de natureza muito forte, mas também uma filosofia sobre como aproveitar essa natureza: deixando-a se desenvolver e ajudando-a como possível. E o melhor jeito para deixar isso claro é fazendo a própria natureza falar por si, viver livremente, e colocar o jogador no meio dessa dinâmica bela e rica.

Tudo isso, claro, é proposto de uma forma muito sugestiva, com os temas raramente ficando claros, e muitas dúvidas podem restar mesmo após o final da trajetória. Porém, os jogos com essa nova linguagem que Flower e Journey criaram procuram justamente a sugestão, despertar um sentimento pela experiência, pelo viver, mais do que passar uma mensagem, e é neste grupo que Abzû se encaixa, e por isso ele busca fazer o jogador viver a sabedoria do mar, mais do que ensiná-la.

E era isso que eu queria falar sobre Abzû. Até a próxima análise!