Olá!
Hoje vou falar de Batman: The Telltale Series, jogo da
Telltale lançado em 2016 para PC, Xbox 360 e One, PS3 e 4 e para Switch em
2017.
Batman
da Telltale é um jogo relativamente modesto nas suas ambições, mas que consegue
acrescentar alguns elementos interessantes, que podem funcionar eventualmente
como trampolim para mecânicas mais elaboradas em futuros jogos do
homem-morcego.
O jogo retoma em muito
aquilo que já é considerado como o estilo da Telltale: mecanicamente, ele gira
em torno de tomadas de decisão, especialmente no tocante a diálogos, e de
alguns elementos de ação, estruturados no formato de quick time events. Porém, esses elementos são modificados para se
encaixar no mundo do Batman de uma forma interessante.
Isso fica extremamente
claro na forma como o jogo aborda os combates: há uma série de cenas em que o
jogo apenas pede que o jogador cumpra determinados comandos em momentos
específicos, com relativamente pouco peso para falhas, pelo menos no longo
prazo. Porém, há algumas cenas em que o jogo dá o tempo para o jogador escolher
como proceder no combate, ou seja, é possível elaborar um plano de ataque,
indicando como atacar cada inimigo.
É claro que, no fundo,
não há muita diferença entre as opções possíveis, mas a sensação de acompanhar
o Batman planejando suas ações e interferir nesse planejamento acabam sendo
fundamentais no retrato de herói mais próximo de sua essência. Anos de
experiência com jogos como os da Rocksteady, por exemplo, nos ensinaram que a
proeza no combate é suficiente para o Batman sobreviver a qualquer enrascada,
mas a série da Telltale coloca ênfase no lado estrategista do herói, o que é
uma abordagem interessante e realista, que cabe bem ao personagem e que, aliás,
já havia sido sugerida pela escolha dos itens no jogo de Super Nintendo.
Parte dessas mecânicas
são executadas também nos trechos em que o Batman age como um detetive. O
jogador precisa saber relacionar objetos, e o Batman, por sua vez, executa o
raciocínio que o leva a entender o próximo passo a seguir. É uma ênfase
interessante, mas relativamente próxima a outras tentativas de outros jogos, como
os da série Arkham.
Na verdade, eu acho que
os jogos do Batman poderiam receber perfeitamente mecânicas de detetive como as
da série Sherlock Holmes, em que há múltiplos elementos a combinar e múltiplas
interpretações a fazer, e o jogador acaba sendo responsável por muitas das
análises e interpretações que guiam o protagonista. Tanto o jogo da Telltale
quanto os da série Arkham investem nesse sentido, mas acabam sendo rasos e
permitindo muita tentativa e erro num trabalho que deveria ser um pouco mais
refinado.
Por fim, cabe falar dos
diálogos e da história, que são considerados o foco dos jogos da Telltale.
Nesses dois planos, o jogo oferece coisas interessantes e relativamente novas.
Em termos de história, o jogo oferece um distanciamento essencial da narrativa
canônica do Batman, ao colocar a família Wayne como criminosa, em vez da versão
idealizada que guia os atos vingativos do protagonista.
Transformando os
maiores bastiões da moralidade de Gotham em criminosos, o jogo acrescenta
profundidade sem mover as peças principais do mundo do Batman: por um lado, o
jogo oferece um comentário sutil sobre grandes fortunas tradicionalmente
advirem de momentos-chave em que a lei foi burlada; e, por outro, o compromisso
de Bruce Wayne com Gotham vai além do impulso de evitar que outras pessoas
sejam mortas como seus pais, mas também se trata do desejo de reconstruir a
cidade que seus pais ajudaram a deteriorar.
Essa abordagem
relativamente realista e que busca comentar um pouco sobre o mundo real casa
bem também com o momento em que o jogo é centrado: o início das grandes
aventuras do Batman, quando o foco ainda não estava nos supervilões contra os
quais o morcego tanto batalha depois. Mesmo as atitudes dos supervilões que
chegam a aparecer no jogo estão voltadas a causar efeitos específicos nas
estruturas da sociedade de Gotham, como a queda dos mais ricos ou dos
corruptos, ou o questionamento sobre como os doentes mentais são tratados na
cidade.
Em grande medida, é um
jogo direcionado a comentar sobre como uma sociedade precisa olhar para seu
passado para entender os desafios e problemas envolvidos para moldar seu
futuro. E, num espelhamento interessante, isso se reflete no protagonista na
questão de quem é a família Wayne e na ação do jogador de decidir quem é Bruce
Wayne e como ele se relaciona com o Batman.
O jogador pode decidir
essa identidade de Bruce Wayne pelos diálogos com os diversos personagens que
habitam Gotham, e que moldam como seus amigos e inimigos o veem, e mesmo a
população inteira da cidade, que acompanha as notícias e declarações do
bilionário. O jogo faz um bom trabalho nisso, colocando diversas situações em
que as escolhas são difíceis e capazes de gerar repercussões em momentos
relativamente inesperados na história.
Além disso, o jogo permite
escolher como abordar certas situações, ou como Bruce Wayne, ou como Batman.
Isso dá espaço para a personagem ser valorizado e mostrar sua relação com os
personagens mais famosos do seu universo de uma forma diferente e interessante.
Normalmente, muitos consideram a persona
Bruce Wayne como apenas uma fachada para o Batman. No jogo da Telltale, porém,
Bruce Wayne e Batman dividem o holofote igualmente, e muitos problemas do herói
só podem ser resolvidos pelo bilionário, e muitos dos problemas de Bruce passam
pelas mãos do morcego.
Assim, a série Batman da Telltale cria um universo com
os pés mais no chão, que busca comentar um pouco sobre o mundo real, enquanto
propõe coisas novas para o universo do Batman em jogos: o foco maior em
planejamento e no trabalho de detetive aponta para alternativas que podem ser
trabalhadas de forma mais profunda em jogos posteriores, ou mesmo de outro
estúdio. E os diálogos chamam a atenção para o fato de que é possível construir
um jogo em tornos dos personagens, fugindo um pouco da tradição focada em ação
e combates.
E era isso que eu
queria falar sobre Batman: The Telltale
Series. Até a próxima análise!
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