Olá! Já faz tanto tempo que a gente
não se fala, não é? Eu disse, no final do ano passado, que o ritmo de
publicações do canal continuaria após a virada do ano, mas mil coisas
aconteceram no nosso caminho e tudo ficou bastante complicado. No momento, a
coisa que mais me atrapalha é o fato de a quarentena ter deixado a minha casa
meio cheia, o que impede as gravações. Na verdade, eu já tenho até alguns
roteiros prontos, só estou esperando o momento certo para finalizá-los.
Isso
é só uma breve satisfação que eu gostaria de dar a vocês, e também queria dizer
que espero que todos estejam passando por este momento tenso no nosso país da
forma mais segura e saudável possível. Em termos econômicos e de saúde pública,
é inegável que estamos vivendo em crise e devemos entender ainda como lidar com
essas coisas da melhor forma.
É
justamente esse contexto que me motiva escrever este texto, falando sobre
alguns temas relacionados a jogos em tempos de crise. Na verdade, o que eu vou
fazer é juntar alguns assuntos de que eu já pensava em tratar faz um tempo, mas
atualizando um pouco conforme o contexto atual.
Na
verdade, a crise brasileira não começou em 2020, nem tampouco em 2019, mas por
volta de 2015, quando o crescimento do país foi se estagnando e múltiplos
indicadores econômicos começaram a se alterar negativamente. É claro que eu não
estou aqui para falar disso, ou para lembrar vocês de um passado que é muito
próximo, mas apenas para apontar que a questão do alto preço dos jogos já tem,
pelo menos, 5 anos de idade.
Na
verdade, aquele tempo de jogos de console novos por 150 ou 170 reais já parece
tão distante que hoje já não é absurdo ver alguns sendo lançados a 300. Mesmo o
PC, que, por um tempo, foi um oásis nesse sentido, já foi afetado. Obviamente o
dólar está por trás disso e os valores estratosféricos atuais só vêm piorando a
questão. A alta demanda do Switch e dos seus jogos também tem causado uma inflação
no preço, intensificada pelo fato de a Nintendo não ter mais presença oficial
no país.
Para
se somar a uma situação financeira como essa, nós temos agora também desemprego
em massa, suspensões de contrato, auxílio de 600 reais etc. Tudo isso abalou drasticamente
o poder de compra do brasileiro e leva à pergunta: como jogar video game hoje em dia?
A
princípio, a pergunta parece tola; afinal, numa escala de prioridades num tempo
de risco, um hobby estaria apenas em
último lugar. Eu concordo plenamente com isso. Porém, a questão vai muito mais
além dessa constatação. O consumo de arte em geral pode ser visto como
essencial num momento de crise, pois ele se revela muito poderoso para aliviar
as tensões, oferecendo experiências completas a um ser humano que vive em
situação de indefinição, medo, tensão e mil outros problemas.
Num
momento em que o convívio social é limitado, rotinas são drasticamente
alteradas e dificuldades se acumulam, o contato com narrativas e o lúdico
oferece ao ser humano a possibilidade de experimentar algo completo novamente,
algo que faz sentido, que tem começo, meio e fim, e nos permite sair renovados
para enfrentar o mundo mais uma vez.
Essa
reflexão já é feita no tocante a inúmeras artes, mas eu argumentaria que ela é
ainda mais relevante no mundo dos jogos. A interatividade típica dessa mídia
permite ao indivíduo um poder de ação sobre a experiência que é fundamental no
momento, em que tantos fatores parecem fora do nosso controle. Seja as
tendências econômicas, seja o famigerado vírus, estamos rodeados de ameaças que
não podemos sentir ou ver de imediato, mas que afetam nossas vidas de forma
avassaladora, e contra as quais pouco podemos fazer.
Nesse
contexto, finalizar um jogo em que o herói pode triunfar contra todas as ameaças;
ou criar uma cidade plenamente funcional num simulador; ou vencer uma corrida
ou uma partida de luta; ou colaborar com seus colegas num jogo cooperativo –
tudo isso nos traz de volta o sentimento de controle, de esperança em nossas
capacidades individuais e coletivas, de combate e cooperação.
Com a gente se
colocando em experiências que nos dão o poder de agir, parte da nossa sanidade
retorna e nos dá a sensação de poder agir novamente, permitindo alguma
confiança para entender o que vivemos e como devemos prosseguir. Eu diria até
mesmo que experiências ludoirônicas, que tematizam a impotência, podem ter sua
utilidade, dando forma a elementos antes difusos no nosso dia a dia e
permitindo um alvo para a nossa revolta.
Por isso, se possível,
não deixe de continuar com o seu hobby,
principalmente se ele envolver um nível de ação. Mas, como podemos fazer isso
com os preços atuais? A minha sugestão é aproveitarmos ao máximo promoções,
descontos e demais possibilidades que pudermos – inclusive voltar à ilegalidade.
Como eu já disse em
outra ocasião, a pirataria continua sendo uma opção segura, embora não ideal,
para a gente manter a possibilidade de experimentar jogos. E, num momento como
este, faz todo o sentido: o nosso contexto atual exemplifica muito bem o
argumento de que uma pessoa que pirateia um jogo não necessariamente o
compraria se não tivesse como jogá-lo ilegalmente. Se jogos estão no fim das
listas de prioridades num momento de crise, e não se pode pagar por eles, eles
simplesmente não seriam comprados e experimentados.
A pirataria, nesse
caso, resolve um problema insolúvel. Com isso, não precisamos abdicar de uma
parte importante de nossas vidas e, na prática, os desenvolvedores nada perdem,
pois simplesmente não poderíamos comprar os jogos de forma oficial com o preço
em que se encontram e com a situação que vivemos.
É claro que isso é um
exemplo extremo, e o ideal seria nos valermos de opções como os planos de jogos
da PS Plus ou Game pass, ou simplesmente apelar para os nossos backlogs, que é o que eu tenho feito.
Mas, eu tenho muito claro em minha mente que, caso essas opções não estivessem
disponíveis, eu já teria me resignado a piratear. Felizmente eu estou
aproveitando um dinheiro que eu gastei quando as coisas estavam mais fáceis, mas
eu não teria pudor em agir diferente se não houvesse outro jeito. E é o que eu
recomendo fazer.
Vale destacar, também,
que, na prática, a grande tendência que estamos vivendo com as crises dos
últimos 5 anos é uma retração do público brasileiro capaz de comprar jogos no
lançamento, o que sempre é triste para quem gosta de acompanhar as grandes
tendências e os títulos mais esperados.
Isso não é um fenômeno
novo. Eu já tive a oportunidade de dividir com vocês que eu já ouvi
representantes de publishers dizendo
que a estratégia de vendas no Brasil conta muito com vendas com descontos e em
períodos bem posteriores ao lançamento. Ou seja, as empresas sabem muito bem o
que estão fazendo ao precificar os jogos novos em 220, 250, 300 reais. A parte
mais rica do público vai comprar nesse preço, e as demais vão adquirindo
conforme ele chega num ponto considerado adequado, sendo 200, 180, 150, 100
reais, o que for. O gameplay de Mortal Kombat X que vocês estão vendo só
foi possível porque comprei o jogo numa promoção por uns 20 reais.
Enfim, essa estratégia
de precificar lá em cima é algo que as indústrias de eletrônicos conhecem muito
bem, e é normal elas se aproveitarem do status
proporcionado por comprar um equipamento ou jogo caro. Poucas são aquelas que
buscam expandir o mercado de forma mais ampla, embora haja exemplos de sucesso,
como a precificação da Steam em reais, os free
to play nos celulares, ou mesmo a estratégia local da Microsoft.
De qualquer forma, a
tendência dessas indústrias é segmentar o público com produtos bem caros. Os
consumidores podem fazer pressão para que estratégias diferentes sejam criadas,
mas, a princípio, é preciso lidar com um pouco de pé no chão e saber que, além
das crises que ultrapassam o contexto dos jogos, há também fatores bem próprios
da nossa indústria que são responsáveis pela situação em que nos encontramos, e
na qual vamos viver por possivelmente um bom tempo.
Tudo isso, porém, não é
motivo para abandonarmos o hobby,
especialmente porque ele parece especialmente produtivo em tempos de crise.
Minha recomendação é que estejamos sempre engajados em arte, e jogos fazem
parte disso. Talvez seja complicado manter esse hábito agora, mas eu acredito
que se deve estudar todas as possibilidades para que possamos nos manter ativos
nessa comunidade.
E era isso que eu
queria dizer sobre o ato de jogar na atual crise mundial. Eu ficaria contente
de ler também como vocês têm passado esses tempos difíceis e o que acham dessa
discussão. Até a próxima análise!
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