sábado, 28 de outubro de 2017

Year walk - Pensando sobre o jogo



Olá! Eu sou o Asa e hoje vou falar de Year walk, jogo desenvolvido pela Simogo em 2013 para iOS, depois lançado, em 2014, para PC e, em 2015, para Wii U. Eu já falei de um jogo da Simogo, o Device 6, que eu joguei no celular faz um tempo, e que é um jogo de puzzle muito criativo, que usa muitas das potencialidades da plataforma que o estúdio escolheu. Year walk é o jogo anterior da Simogo, mas, desta vez, eu preferi jogar no PC, até para facilitar a captura, e o que eu encontrei foi um jogo muito interessante, com uma atmosfera única e que é capaz de criar suspense e mistério com muita originalidade.

A história de Year walk é baseada num costume antigo da Suécia, em que as pessoas procuravam ver o futuro. Para isso, na véspera do ano novo, a pessoa se abstinha de comer e beber qualquer coisa, e passava o dia inteiro em casa, no escuro. Próximo da meia noite, ela saia de casa e rumava até a igreja e lá ela teria visões sobre o próprio futuro. O problema é que, para isso, a pessoa meio que entra num limbo dimensional e, para atravessá-lo e ver o futuro, ela precisa tomar cuidado com uma série de guardiões que vigiam esse plano.

Como a mitologia sueca é muito obscura para a maioria dos povos do mundo, o jogo conta com uma enciclopédia sobre cada um desses guardiões, que contém informações muito importantes para prosseguir no jogo. Além dessa necessidade para a jogabilidade, é bem interessante conhecer essas histórias, que pintam a mitologia e o folclore de uma forma bem sombria, o que é o tom que uma imensa parte dessas histórias acaba assumindo em todas as partes do mundo.

Se você já ouviu falar que muitas das histórias clássicas que a gente vê em filmes da Disney, por exemplo, são baseadas em contos absolutamente cruéis e sanguinolentos, você não deve levar nenhum choque com as histórias na enciclopédia de Year walk. Muitas são baseadas em medos reais e são estratégias para afugentar pessoas de perigos que rondam uma região fria e cheia de potenciais ameaças à vida.

No jogo, você controla um rapaz que decide realizar uma year walk. Ele avisa uma potencial namorada disso, e ela tenta dissuadi-lo, mas ele volta para casa e repousa até a meia noite, quando ele pode começar a andar por aí e ver todo tipo de coisa. Na prática, Year walk é um jogo de puzzles, em que o jogador deve ajudar o protagonista a prosseguir no seu caminho até a igreja, para completar a year walk.

Para isso, é preciso se movimentar pelo mapa do jogo, que é relativamente pequeno, mas cheio de pistas para uma série de puzzles espalhados pelo jogo, que é relativamente curto, mas cheio de momentos misteriosos. Cada trecho do cenário é como se fosse uma ilha, com alguns pontos específicos servindo como uma ponte para o próximo segmento. Alguns segmentos estão bloqueados, e é preciso interagir com alguma coisa para liberá-los, mas todos já se encontram presentes no mapa, que inclusive conta com as rotas possíveis.

Além de se movimentar, o jogador pode interagir com alguns objetos, mas eles não são muitos, porém todos os interativos são significativos e importantes em algum momento do jogo. Além disso, é essencial observar pequenos detalhes, entalhes nas árvores, coisas escritas, e também retornar a espaços já visitados para ver se algo mudou.

No geral, os puzzles do jogo não são muito desafiadores, mas eu sempre recomendo ter papel e caneta perto, porque pode ser necessário. Uma coisa que sempre me acontece com jogos de puzzle baseados na observação do cenário é que eu me sinto meio bombardeado com informações logo no começo, e saio escrevendo tudo de uma vez, e depois vou interpretando e usando essas informações quando é necessário.

Pode parecer algo tedioso, mas faz você se sentir um verdadeiro detetive e uma pessoa perspicaz, já que usar uma informação que você conseguiu no outro extremo do mapa nem sempre é algo que alguém vai conseguir fazer de imediato. E eu vi algumas reviews no Steam reclamando que o jogo era obscuro demais e, se você ficar frustrado com esse sistema do jogo, há uma opção de obter dicas. Eu consegui finalizar o jogo em poucas horas e não usei nenhuma dica; como eu não me considero particularmente inteligente para essas coisas, eu acho que nada no jogo é tão difícil assim.

O fato é que haverá puzzles que se utilizam de várias mecânicas do jogo, como som, interpretação de texto, exploração e, principalmente, conhecimento sobre a mitologia presente no jogo. O fato é que o conhecimento de como lidar com certas criaturas ajuda muito você a sobreviver a momentos realmente assustadores que o jogo propõe.

E isso leva a uma parte muito importante, a ambientação de Year walk, que, para mim, é uma das coisas mais interessantes nesse jogo. Interagir com os puzzles desse jogo, bem como com as figuras mitológicas que aparecem para você, oferece um olhar novo naquele mundo circundado por neve e aparentemente tranquilo. Adentrar uma nova realidade mostra todo o sangue e a violência que fazem parte desse universo, e levanta algumas dúvidas importantes sobre alguns personagens do jogo.

Quando a gente pensa na mensagem que a própria estrutura de Year walk apresenta, seria algo como que a vida privada e os sentimentos das pessoas escondem problemas e horrores que chocam muito mais do que criaturas mitológicas, e essas criaturas, embora assustadoras, muitas vezes podem até ter funções benéficas, enquanto as pessoas mesmo podem ser muito mais cruéis.

O mais interessante é que isso não é dito ao jogador, e sim sugerido por meio das imagens e puzzles que são propostos em Year walk, e aí o sentimento de detetive só se intensifica, porque você não é apenas um jogador resolvendo puzzles, mas alguém que está descobrindo a vida de pessoas que têm muito a esconder. E uma vilazinha pequena na Suécia pode ser palco de vários horrores.

Por fim, o jogo ainda tem um mistério final, um puzzle mais ou menos secreto que quebra a quarta parede, reconhecendo a existência do próprio jogo e fazendo o mistério de Year walk chegar ao mundo real de um jeito bem inteligente, e deixa um impacto bem forte, fazendo o jogador pensar e se sentir afetado por tudo que ele vivenciou no jogo, como os melhores filmes de terror que tocam a realidade conseguem fazer, como O chamado ou Candyman. É uma história cheia de fantástico, mas um fantástico um pouco real demais para a gente ficar 100% confortável.

E era isso que eu queria dizer sobre Year walk. É um jogo cheio de puzzles inteligentes, e que cria uma atmosfera surpreendente, cheia de mistério e violência, e que vaza do computador para o mundo real de um jeito bem assustador. Até a próxima análise!

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