domingo, 7 de janeiro de 2018

Star fox 64 - Pensando sobre o jogo



Olá! Eu sou o Asa e hoje vou falar de Star fox 64, jogo desenvolvido pela Nintendo e lançado em 1997 para o Nintendo 64. Eu planejo falar desse jogo quase desde a época em que eu comecei o canal, mas às vezes o raciocínio demora a se formar satisfatoriamente. Hoje chegou a hora.

A princípio, Star fox 64 parece um jogo simples, de uma época já passada. Em grande medida, parece fazer muito mais sentido falar do seu antecessor. O primeiro jogo da série, lançado em 1993, era um jogo que deixou muitos jogadores de queixo caído. Era um dos exemplos mais impressionantes de implementação do 3D num console conhecido quase que apenas pelos jogos em 2D.

É claro que havia um preço para aquilo. No geral, Star fox sofria muito com quedas de frames e a movimentação era significativamente lenta, estranha, com a percepção de profundidade meio falha e uma mira que parecia obedecer com um certo atraso. Mas, como na época o 3D era santo graal dos consoles, nós aceitávamos com admiração.

E também não era só isso. Os gráficos simples do primeiro Star fox dava uma aparência extremamente alienígena e quase psicodélica às fases do jogo, a trilha sonora foca muito em tons sombrios e intensos, o que tornava a passagem por cada fase uma espécie de viagem ao desconhecido. Mesmo a grande maioria dos designs dos personagens era mais crua e dava um tom um tanto sério ao jogo. Os chefes das fases, então, sempre souberam passar uma certa tensão, especialmente depois da primeira fase.

Até hoje, o primeiro Star fox é um jogo que me causa estranhamento, um certo receio enquanto jogo. Como um jogo bem arcade, é uma excelente introdução para uma espécie de ficção científica que vai além daquela fantasia positiva que mundos como Star wars fixaram quase como padrão do gênero. Eu provavelmente estou exagerando um pouco ao falar isso, mas eu acredito que o primeiro Star fox está mais próximo de um universo como o de Duna do que do de Star wars.

Enfim, por todos esses motivos, Star fox é um jogo que talvez seja até um pouco injustiçado na história dos jogos, porque as inovações e os fracassos técnicos acabam protagonizando a conversa sobre o jogo, quando na verdade há muitas coisas a serem discutidas em relação ao tom e ao universo do jogo, cujo único parente próximo no mundo da Nintendo me parece ser a série Metroid.

Mas, por incrível que pareça, Star fox não é o meu tema de hoje, e sim a sua sequência, Star fox 64. Eles possuem muitas similaridades, mas a grande diferença entre eles é justamente um afastamento daquilo que fazia o primeiro jogo da série ser interessante. Felizmente, a sequência conseguiu encontrar algo muito especial também.

Star fox 64 é um shooter espacial predominantemente sob trilhos, embora haja também momentos e fases em que se pode voar mais livremente. No jogo, você controla Fox McCloud, um jovem que chefia uma equipe de quatro pilotos, que se unem para proteger a galáxia contra Andross, um cientista que criou um exército gigante para atacar seu planeta natal. Na prática, o jogador controla a nave do Fox, contando com lasers, tiros teleguiados e bombas.

Além disso, há movimentos evasivos diversos, principalmente um giro rápido que protege a nave contra lasers inimigos. Nas fases com movimento mais livre, ainda é possível usar manobras mais complexas. E, além das naves, certas fases contam com o uso de tanques e até de um submarino.

A coisa mais importante a dizer em relação a gameplay é que Star fox 64 conserta absolutamente todos os problemas presentes no primeiro Star fox, e faz da experiência algo muito mais recompensador e confortável. A movimentação é rápida, a mira obedece com muito mais precisão, os tiros são velozes, a percepção de profundidade é bem mais clara e a taxa de frames não é mais incômoda. Com isso, em termos técnicos, Star fox 64 provavelmente se tornou aquilo que seu antecessor deveria ter sido.

Mas, ao mesmo tempo, os avanços possíveis, bem como novas direções para onde o jogo andou, transformaram a sequência em algo bem diferente. Para começo de conversa, os gráficos do jogo ficaram mais definidos, e as capacidades do Nintendo 64 permitiram criar um universo muito mais elaborados, com inimigos e construções que, embora ainda pareçam simples, não têm mais a estética alienígena e estranha do primeiro jogo, e ficou bem mais comparável com coisas que podemos imaginar facilmente.

Os personagens agora parecem menos sérios em seus designs, e adição de dubladores substituiu a fala esquisita do primeiro jogo por momentos que ficam entre o hilário, o irritante e o divertido, dependendo do momento e de quem fala. Com isso, o universo do jogo ficou muito bem definido e caminhou para longe do tom assustador e estranho do primeiro, e resolveu chegar mais perto do cartunesco.

Porém, embora isso possa parecer um erro enorme, o que aconteceu realmente foi que Star fox 64 abraçou a estética cartunesca e resolveu criar sua experiência a partir disso. E o resultado foi um jogo que abandonou o tom de mistério e perigo do antecessor, e adotou um tom de aventura épica que se tornou a marca dos jogos da Nintendo nessa época. Porém, eu acredito que Star fox 64 se destaca ainda de seus pares da Nintendo por oferecer uma estrutura cartunesca que envolve o jogador com espanto, dinamismo e empolgação por toda a experiência.

Cada fase de Star fox 64 é diferente e, apesar das mecânicas serem muito básicas e simples, o jogo sabe oferecer coisas novas e propostas diferentes a cada fase. Há alguns cenários de combate que acabam se repetindo, com apenas variações de dificuldade, mas há fases em que o jogador deve ir para a ofensiva; em outras, ele precisa se defender; em outras, ele precisa destruir um certo objeto; em outras, passar despercebido por alarmes; em outras, é preciso navegar pelo fundo do oceano, com inimigos orgânicos em vez de naves; em outras, a mobilidade limitada do tanque precisa ser levada em consideração; em outras, o calor do cenário é o maior inimigo.

E o incrível é que cada um desses cenários é interessante e envolvente para o jogador, até porque cada fase dura apenas poucos minutos, o que não dá a chance de o jogador cansar e permite um sentimento de aventura e de realmente cruzar múltiplos planetas numa galáxia. O fim de cada fase deixa o mistério sobre qual será o próximo capítulo da aventura de Fox, qual planeta maluco ou círculo de asteroides perigoso aparecerá em seguida, e isso é um sentimento que só os melhores seriados conseguem criar.

Contribui para isso também o fato de o jogo ser em trilhos, porque não há tempo para o jogador parar e apenas admirar o ambiente; assim que uma fase terminou, ele pode passar à próxima e o jogo já começa em velocidade máxima, o que deixa a mudança intensa e faz o jogador se empolgar com a nova fase, ao mesmo tempo em que mantém sua adrenalina alta, porque é preciso se adaptar rápido.

E, falando em saber se adaptar, uma das coisas mais interessantes do jogo para mim é como há múltiplas oportunidades para mudar sua rota até o planeta final. É bem sabido que o jogo possui algo como três rotas principais, fácil, média e difícil, representadas pelas cores azul, amarelo e vermelho. Porém, esses caminhos não são bem definidos e podem ser alterados pelo jogador, contanto que ele saiba o que está fazendo.

O melhor é que essas alterações não são exatamente claras, e ações que não parecem resultar em mudanças drásticas acabam sendo determinantes para fazer Fox mudar sua rota de repente: ajudar um companheiro, ser detectado por alarmes, vencer um chefe de uma forma alternativa, alcançar a velocidade da luz; tudo isso pode levar a mudanças drásticas, mas o jogo nunca conta isso ao jogador. Aliás, há caminhos que eu só descobri recentemente, quase 20 anos depois de conhecer o jogo.

Além disso, fracassos em missões, que normalmente resultariam em ter que repetir a fase, são tratados de forma orgânica e apenas resultam em mudanças de rota. Talvez, com a nave principal destruída, a equipe tenha que escolher uma rota de menor resistência, o que faz total sentido no mundo do jogo e faz com que as aventuras de Fox sejam um pouco o reflexo das suas próprias aventuras, como jogador.

E é esse sentimento de aventura que é o principal em Star fox 64: cada missão oferece uma pequena história, como um pequeno episódio de um seriado de ação espacial, os personagens se tornam divertidos, reagem a algumas decisões do jogador, que acaba influenciando os capítulos da jornada. A diversidade de fases e de situações para usar as mecânicas faz com que o jogo nunca dê a impressão de ser repetitivo, e a velocidade e os inimigos constantes do jogo previnem qualquer sentimento de monotonia.

E, com tudo isso, embora a experiência de embarcar numa grande aventura fosse uma marca fortíssima da Nintendo dessa época, e fosse clara em jogos como Super Mario 64 ou Ocarina of time, Star fox 64 sabe fazer um recorte perfeito, que não repete os colegas. A aventura de Star fox 64 é a que dá ao jogador a maior tensão, e por isso é a mais curta; é a mais bem amarrada, deixando pouquíssimo ou nenhum tempo para o jogador respirar, e ficando totalmente focado na missão de salvar a galáxia; e talvez seja até a que reage mais imediatamente às escolhas e aos feitos do jogador de uma forma orgânica, apesar de ser a experiência mais sobre trilhos da Nintendo da época.

Em grande medida, Star fox 64 é um dos jogos mais influenciados pela estrutura de outras mídias, especialmente a de seriados, com cada fase funcionando quase como um episódio, com o detalhe de que as batalhas, as vitórias e as derrotas são resultado do jogador, e por isso ele se torna especialmente investido. É uma experiência bastante marcante na história da Nintendo, embora não necessariamente receba esse crédito, o de provavelmente ser o jogo mais cinemático da empresa.

E, além disso, ainda é um dos mais claros exemplos de como construir uma história extremamente focada, mantendo o jogador investido no momento da batalha e na aventura em geral, e sentindo a pressão de poder influenciar sua trajetória, para melhor ou para pior. Com tudo isso, o jogo abandonou totalmente o mistério e o tom algo sombrio do primeiro jogo, mas se tornou mais uma fantasia positiva que conseguiu contar sua história muito bem e levar o jogador a uma viagem que ele provavelmente não vai esquecer.

E era isso que eu queria dizer sobre Star fox 64. Até a próxima análise!

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