Olá!
Hoje vou falar do clássico Altered Beast, lançado em 1988 para arcade e Mega Drive, e depois relançado
inúmeras vezes até os dias de hoje.
A
partir de todos os ângulos por que a gente decida olhar para Altered Beast, nós veremos um jogo muito
simples. Trata-se de um beat’em up
clássico, em 2D, não isométrico como a maioria dos seus pares, em que você
controla um guerreiro ressuscitado por Zeus e incumbido de resgatar a deusa
Atena do vilão Neff. Para isso, você obtém o poder de se transformar em feras
com poderes variados.
A
quantidade de ataques possíveis de realizar no jogo é bem limitada. Basicamente
você tem um soco baixo e alto, um chute para cima, e você pode chutar e socar
enquanto pula. É isso. Os inimigos também não demoram muito para morrer;
geralmente um ou dois ataques serão suficientes. As cinco fases do jogo
apresentam uma variedade interessante de inimigos, com poucos se repetindo
entre fases, mas, no geral, é bem simples perceber a estratégia para vencer
quase todos. Apenas os inimigos da última fase ainda me pegam desprevenido.
Porém,
eu diria que é essa simplicidade de Altered
Beast que faz com que ele funcione corretamente e que faz dele um jogo de
um gênero muito curioso na nossa indústria. No fundo, Altered Beast é um daqueles jogos antigos que giram em torno da
ideia de te vencer pelo cansaço, ou seja, é um tipo de jogo em que uma partida
de alguém que sabe o que está fazendo não dura muito tempo, enquanto a partida
de um principiante pode se alongar loucamente.
Isso
acontece porque existe um gatilho para que as fases acabem em Altered Beast: é preciso chegar ao chefe
transformado numa fera e, para isso, é preciso coletar três orbes depois de
matar três lobos. Cada um desses orbes te dá diferentes bônus em termos de
força e alcance, com o terceiro te transformando numa fera, que tem ataques
extremamente úteis e poderosos.
O
grande problema é que os lobos não ficam na tela por muito tempo, sendo
essencial que você os ataque na hora certa. Conforme as fases vão se seguindo,
isso vai se tornando uma mistura de posicionamento correto, timing e capacidade de lidar com outros
inimigos que aparecem apenas para te distrair dos lobos. Se você tiver êxito e
matar os lobos o mais rápido possível, você chegará ao chefe, ele se
transformará num monstro também e você terá uma luta que permitirá passar para
a próxima fase.
Caso
você não tenha conseguido os três orbes, o chefe vai sumir e você vai ter que
passar por uma nova sequência naquela fase, com os lobos aparecendo de novo.
Porém, como você fica mais tempo exposto aos inimigos, a possibilidade de tomar
dano é maior e aumenta, assim, a chance de chegar ao chefe e às próximas fases
em piores condições do que o ideal.
Assim,
o grande apelo de Altered Beast é o
trabalho de aprender onde cada inimigo e, especialmente, onde cada lobo
aparecerá, planejando os ataques corretos para chegar ao chefe logo, vencê-lo e
passar à próxima fase. Com a execução correta, uma partida de início ao fim do
jogo vai durar apenas uns 10 minutos. Porém, essa execução correta não é fácil,
e não demanda muito de você ou dos controles, e sim da sua capacidade de agir
corretamente, já com o conhecimento do que virá em seguida.
Nesse
sentido, a curtíssima duração de Altered
Beast é algo extremamente positivo, porque permite ao jogador ter um
roteiro exato na sua cabeça, de forma que uma partida de alguém experiente
pareça algo como uma dança, em que o personagem se move e age já ciente do que
vem por aí, e em perfeita harmonia com o que o jogo demanda dele.
Curiosamente,
embora tenha sido voga por um tempo considerável, esse tipo de jogo tem estado
sob ataque por parte dos jogadores, e a sua queda veio com a ascensão dos jogos
roguelikes, em que os cenários e
inimigos são randomizados. Embora roguelikes
certamente sejam um estilo interessante e certamente muito mais desafiador do
que jogos como Altered Beast, já que
a improvisação e a tensão são uma parte essencial deles, eu ainda não consigo
negar o poder que a experiência de Altered
Beast proporciona.
Ele
é um jogo que o jogador pode entender e dominar rapidamente, e a execução
necessária acaba demandando um treino que se torna quase ritualístico. E o
ritual é algo essencial na experiência humana. É algo que nos dá conforto, nos
permite um sentimento de segurança e controle que, em última instância, é
importante para nossa estabilidade. Adotar hábitos é algo que advém não apenas
da praticidade de poder deixar de pensar em certos assuntos, para que eles
sejam executados quase que automaticamente por nós, mas também da necessidade
que temos de ver um mundo organizado e que faz sentido aos nossos olhos.
Retomando
a comparação que eu fiz há pouco, uma partida de Altered Beast é como uma dança, em que, no começo, você tropeça,
pisa no pé da pessoa e erra o ritmo. Porém, com a prática, você consegue
executar 100% do que planejou e isso acaba sendo uma experiência que dá uma
satisfação que parece até estranha numa época em que a gente é incentivado
tanto a tentar coisas novas, mas que serve para nos relembrar daquele tipo de
jogo que nós tanto jogamos na infância, e que era o nosso jogo, aquele que a
gente conhecia de cabo a rabo; ou então daquele episódio de Chaves ou outro programa que, apesar de
a gente já ter visto tantas vezes, a ponto de decorar as falas, ainda nos faz
rir com a mesma piada velha.
É
claro que é difícil falar de uma obra assim em termos de grandes contribuições
a um gênero ou como uma experiência fundamental; porém, a repetição, a
memorização e a ritualização que o jogo incentiva são certamente típicas de
vivências rituais que nós abraçamos e que servem para a gente criar nossa
própria realidade, chamar o mundo de nosso.
E
era isso que eu queria dizer sobre Altered
Beast. É um jogo simples, que pode parecer até bem datado, mas que oferece
uma experiência confortável, com o mesmo combate correto, as mesmas boas
músicas e o mesmo ritual satisfatório que fazem com que ele entre em nossa
mente e não saia tão cedo. Até a próxima análise!
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