Olá!
Bem-vindo ao canal TheAsaGames! Eu sou o Asa e hoje é dia de continuar um
projeto bem longo do canal, e que esteve em suspenso por mais de um ano, que é
falar da série Castlevania, um jogo
por vez, tentando mostrar exatamente que questões históricas e estéticas eles
discutiam, e como acompanhar uma série tão antiga como essa pode ensinar
bastante sobre a história dos jogos.
Eu
sei que algumas pessoas que acompanham o canal esperavam a continuação desses
vídeos já faz um bom tempo e, por isso, eu peço desculpas. Infelizmente, como
vocês bem sabem, eu sou meio desorganizado com a minha lista de coisas para
jogar, mas eu tento encaixar o máximo de coisas que vocês me sugerem; então,
apesar da demora, eu tento falar de tudo que vocês indicam.
E,
no caso específico dessa série, eu queria dizer que o ritmo dela provavelmente
nunca mais será como quando ela começou, porque a própria duração dos jogos
mudou muito. Terminar os primeiros Castlevania
em questão de poucas horas era possível, mas, desde Symphony of the Night, cada Castlevania
demanda praticamente umas 10 horas e, até para eu não enjoar da série, eu
prefiro manter uma certa distância entre um título e outro. Mas, mesmo que mais
esparsa, a série de vídeos com certeza continuará.
Dito
isso tudo, hoje é dia de falar do primeiro Castlevania
para Game Boy Advance, chamado de Castlevania:
Circle of the Moon, desenvolvido pelo estúdio da Konami em Kobe, em 2001.
Caso você não se lembre, esse foi o mesmo estúdio responsável por Castlevania 64, que foi o primeiro
esforço da Konami em fazer a transição da série para 3D, e que resultou numa
infinidade de problemas para o jogo.
Entretanto,
Circle of the Moon não tem
absolutamente nada a ver com Castlevania
64. Na verdade, a principal característica do jogo é criar uma versão
portátil do jogo moderno mais influente da série, que foi Symphony of the Night. Em grande medida, Circle of the Moon é uma adaptação surpreendentemente capaz de
reproduzir o modelo de um jogo de Playstation sem nenhum problema. Ele, por
isso, retrata um pouco o salto imenso na qualidade dos portáteis na época do
Gameboy Advance.
Mas,
não contente em apenas adaptar o modelo de Symphony
of the Night, Circle of the Moon
também cria diversas mecânicas que o tornam único e um título que poderia
perfeitamente figurar num console – contanto, claro, que fossem adaptados os
gráficos e o som para o padrão.
Como
Symphony of the Night, Circle of the Moon é um jogo baseado na
exploração de um imenso cenário, que acaba se renovando diversas vezes graças à
adição de novas habilidades ao protagonista. A título de comparação, eu
coloquei a imagem dos mapas totais dos dois jogos na tela, só para deixar claro
o tamanho do cenário que um jogo de Gameboy Advance conseguia criar e o quanto
ele não estava distante de um jogo de PS1. Claro, em Symphony of the Night, o cenário acabava dobrando por causa do
castelo invertido, mas mesmo assim é impressionante a escala de Circle of the Moon.
Aliás,
se a gente analisar com calma, a ideia de explorar o cenário em várias etapas é
ainda mais bem trabalhada em Circle of
the Moon, já que os power-ups são
vários, o que permite um ritmo ainda mais cadenciado do que o de Symphony of the Night, em que você tinha
poucos power-ups. Em Circle of the Moon, vencer um chefe
significa ganahr uma habilidade completamente nova e que garante acesso a
diversas áreas, mas não a tantas assim, o que te deixa sempre provocado a
procurar o próximo upgrade.
Assim,
por exemplo, o protagonista ganha a habilidade de correr, de dar pulo duplo, de
se apoiar nas paredes para pular mais alto, de destruir pequenos blocos de
pedra, de empurrar blocos pesados, e várias outras. Com isso, o jogador tem um
sentimento mais satisfatório ao passar por cada etapa do jogo, pois, além de
progredir na história, ele sempre pode descobrir algo que estava bloqueado.
Outra
adição muito interessante de Circle of
the Moon ao esquema Metroidvania foi o sistema de magias, que o jogo aplica
na forma de combinações de cartas. Conforme o jogador mata certos inimigos, ele
ganha algumas cartas que fornecem habilidades especiais, mas apenas se usadas
em dupla. São duas categorias de cartas e, para ativar algum efeito, o jogador
deve escolher uma de cada tipo.
O
interessante é que cada combinação gera um efeito totalmente diferente. Existem
dez cartas de cada tipo e cada combinação gera um tipo de magia diverso: ela
pode aumentar status do protagonista,
pode dar poderes elementais ao chicote, pode criar projéteis, e muitas outras
coisas. Aliás, conseguir todas as cartas é, talvez, o maior desafio do jogo, já
que muitas estão extremamente escondidas. Mas, caso o jogador consiga tudo, as
possibilidades de gameplay se
expandem muito.
Fora
essas adições, muitos dos elementos de RPG de Symphony of the Night foram mantidos, mas, no geral, são bem mais
limitados: o protagonista ainda ganha experiência a cada inimigo derrotado, e o
jogador ainda pode customizar sua armadura, mas há muito menos opções, e não é
possível customizar a arma principal, só as armas secundárias, que são as
clássicas da série.
Em
outras palavras, é quase inacreditável para mim como Circle of the Moon conseguiu manter grande parte dos sistemas que
funcionavam em Symphony of the Night
e ainda criar certas adições e melhorar alguns detalhes presentes no jogo de
PS1. E, para além disso, em termos das mecânicas tradicionais de um Castlevania, o jogo tem pleno sucesso
também.
Os
cenários são bastante variados dentro do castelo, há uma grande multiplicidade
de inimigos que, podem até não ter designs
tão distintos assim, mas têm diversos padrões de ataque. Um grande exemplo
disso são as armaduras, que aparecem em umas cinco variações de cor, mas os
ataques delas são completamente diferentes: uma joga um machado, outra tem uma
espada de fogo com grande alcance, outra libera um projétil que segue o
protagonista, e por aí vai.
Os
chefes também são bem variados, com figuras tradicionais e também novas na
série, e alguns desafios bem interessantes se apresentam conforme se avança no
jogo. O último chefe, inclusive, pode dar muito trabalho, se o jogador não
tiver uma boa combinação de cartas.
Agora,
a principal herança que eu acreditava que Symphony
of the Night poderia deixar para os jogos da série e que de fato continuou
em Circle of the Moon é a história.
Em Symphony of the Night, Castlevania finalmente deixou de ter
aquela história genérica e conceitual, com elementos mínimos, e passou a ter
uma história que buscava, antes de tudo, algo num nível mais pessoal.
Além
de retomar diversos personagens clássicos da série, Symphony of the Night contava a história de uma família
problemática, com pai e filho traumatizados por uma experiência, mas que
lidavam com essa experiência de formas diferentes, e isso os colocava como
adversários. É uma trama macarrônica, sim, mas, também, é uma história sobre
uma disputa familiar.
Circle of the Moon, embora não tenha
algo num nível tão familiar, tem como base uma disputa entre rivais, que são o
protagonista Nathan e seu colega Hugh. Ambos foram treinados pelo mesmo mestre,
o pai de Hugh. Quando eles percebem que Drácula está voltando, os três vão até
o castelo. Entretanto, Drácula prende os dois jovens nas profundezas do castelo
e planeja usar o mestre deles para obter seus poderes máximos.
A
partir desse momento, começa uma longa disputa entre Hugh e Nathan, porque,
apesar de Hugh ter sido sempre superior ao Nathan em combate, o mestre escolheu
o Nathan para ser herdeiro do clássico chicote que era da família Belmont. Isso
deixa o Hugh muito amargo e ele trata o Nathan como um estorvo o tempo todo, a
ponto de querer salvar o pai sozinho, sem a ajuda do Nathan.
Conforme
o jogo avança, o jogador encontra o Hugh em diversos momentos, e sempre se cria
uma tensão entre ele e o protagonista que acaba estabelecendo uma narrativa
mais próxima e passional do que uma trama tradicional de Castlevania possibilitaria. Depois, já próximo do final do jogo, a
resolução dessa disputa vai ser tão interessante quanto a resolução da trama
geral do jogo, que é centrada na batalha contra Drácula.
Para
mim, essa história não alcança os momentos mais altos que Symphony of the Night atinge, mas ela segue os passos do jogo de
PS1 de forma inteligente, tenta propor algo no mesmo nível, no sentido de
discutir relações pessoais mais próximas num contexto que ainda é familiar aos
fãs tradicionais da série.
E
era isso que eu queria dizer sobre Castlevania:
Circle of the Moon. Ele é um jogo que consegue fazer uma transição
excelente de um modelo que era adequado a consoles não muito tempo antes, e faz
uma transição perfeita para o ambiente portátil, com uma surpreendente
qualidade.
Provavelmente
foi graças ao sucesso de Circle of the
Moon que se criou a divisão que nós veremos na série daí por diante: jogos
2D ao estilo de Symphony of the Night
ficarão limitados aos portáteis, enquanto tentativas em 3D continuarão sendo
feitas em consoles.
Para
entender um pouco essa mentalidade, é preciso lembrar que, na época da virada
do século, o 2D era tido frequentemente como coisa ultrapassada. Por isso, por
mais que Symphony of the Night fosse
um jogo excelente e fizesse uma modernização das mecânicas da série, ele é mais
ou menos uma anomalia na história da época.
Para
que esse estilo de jogo sobrevivesse de forma saudável, ele foi transportado
para portáteis e conseguiu se adaptar muito bem, como Circle of the Moon provou. É graças a adaptações como essa que a
franquia conseguiu manter uma interessante diversidade, já que, estando num
portátil, era possível evitar comentários sobre o jogo ser tecnologicamente
ultrapassado.
Ou
seja, Circle of the Moon
provavelmente foi um teste bem-sucedido de manter as raízes da série de forma
sustentável e, por isso, ele tem um lugar muito especial na franquia Castlevania. E, graças a ele, nós ainda
veremos mais dois jogos com jogabilidade parecida sendo lançados no Gameboy
Advance.
Nenhum comentário:
Postar um comentário