sábado, 23 de janeiro de 2016

The Swapper - Pensando sobre o jogo



Olá! Bem-vindo ao canal TheAsaGames! Eu sou o Asa e hoje vou falar de The Swapper, jogo da Facepalm Games, lançado em 2013 para PC e em 2014 para PS3, PS4, PS Vita e Wii U. Ele é um jogo muito interessante, que se apresenta como um grande representante do que a melhor ficção científica consegue produzir, que é justamente discutir os temas mais caros à nossa vida de hoje, apesar de usar um cenário totalmente distinto.

Em The Swapper, o jogador controla um personagem sem nome, que aparece pela primeira vez escapando de uma estação espacial e pousando em um planeta. A primeira coisa que o jogador nota é a imensidão do cenário do jogo, mesmo que na perspectiva 2D. Tudo é muito grande em volta do personagem, que é representado numa área bem pequena da tela, especialmente nos espaços mais abertos.

Essa escolha de estética visual é muito consciente e representa um tema bastante comum em ficção científica, que é a imensidão do espaço em comparação com o homem. Em The Swapper, o tamanho do espaço é quase opressor, ocupando muito espaço da tela, como se mostrasse a insignificância do ser humano que o jogador controla.

Apesar de ser uma escolha estética recorrente no gênero, essa ideia de pequenez do ser humano faz muito sentido em The Swapper, porque está ligada a uma das mensagens mais claras do jogo: a de que o ser humano não abarca tudo e que suas limitações são, na verdade, muito grandes. Existe um universo de coisas que o homem não consegue explicar ou dominar.

E essa mensagem do visual aparece de forma mais concreta na história, que, em termos estruturais, é contada de forma toda quebrada, já começando pelo meio, e depois sendo construída a partir de registros presentes na estação espacial, o que cria todo uma sensação de história fragmentada, que é preciso interpretar para entender.

E essa mensagem não se restringe à forma como a trama é contada, mas se revela também no conteúdo da trama em si. Conforme o jogador avança, ele ficará sabendo que a estação espacial contém rochas chamadas de watchers, que têm inteligência e se comunicam de forma telepática. Entretanto, apesar de terem subtraído as rochas do planeta para estudo, nem os humanos conseguem entender como funciona o raciocínio dos watchers, e nem os watchers conseguem entender conceitos básicos da vida humana, como a morte.

Tudo isso reforça muito o conceito de limite que The Swapper procura imprimir desde o visual, até os mais diversos elementos da sua trama. Ele é um jogo bastante coerente nesse ponto e cria uma experiência muito marcante num debate que procura discutir o espaço entre o sujeito e o outro.

Esse debate está no centro da trama, que revela justamente a batalha de criaturas que lutam para manter sua identidade, para fazer sobreviver a sua consciência, não importando os desafios que o mundo e o outro coloquem pelo caminho. Eu não vou entrar muito no ramo dos spoilers neste vídeo, mas quem jogou The Swapper percebe como cada ação das criaturas daquele mundo é para lutar por aquilo que consideram fundamental para si, e essa luta se dá contra uma outra criatura, seja no plano físico, seja na mente.

Mas, o momento em que essa discussão aparece de forma mais interessante é nas mecânicas do jogo. Em termos de gênero, The Swapper é um jogo de puzzle, que é baseado no usado de um dispositivo chamado swapper, que permite ao usuário criar clones de si mesmo e transferir sua alma para um desses clones. Os clones sem alma só conseguem imitar exatamente o que o dotado de alma faz, então eles andam para o mesmo lado, pulam todos juntos, etc.

A mecânica básica do jogo é usar os clones para alcançar certos itens que permitem operar mecanismos para avançar na estação espacial e entender o que está acontecendo lá. Esses puzzles são sempre muito bem executados e têm uma progressão muito bem calculada, fazendo com que cada etapa ofereça um desafio de respeito ao jogador. Do meio para o fim do jogo, não foi raro eu ficar mais de meia hora olhando para um cenário, tentando decifrar a resposta correta.

E, conforme o jogador progride, novas dinâmicas vão sendo adicionadas, como luzes que impedem a criação de cópias ou a transferência de alma, ou então campos gravitacionais que fazem seu personagem ficar de cabeça para baixo. As variáveis apresentadas pelo jogo são muito ricas e fazem da experiência uma coisa muito desafiadora e capaz de fornecer muita satisfação a cada puzzle desvendado.

Mas, enquanto você fica pensando nas formas de resolver os puzzles de The Swapper, é quase inevitável ficar também pensando na natureza desses desafios e dessa sua máquina, que é a solução para os problemas do personagem. Afinal de contas, qual é o significado de usar o swapper para progredir?

Enquanto eu pensava nisso, lembrei muito do filme O grande truque, que conta uma história que ilumina bastante o significado de The Swapper, mas que eu não vou explicar aqui por conta de spoilers, porque o efeito desse filme depende muito do quanto você sabe sobre ele antes de assisti-lo. De qualquer forma, quem já assistiu vai entender a referência sem muitos problemas.

O fato é que, em The Swapper, não é nada estranho ver um dos seus clones morrer por conta das quedas, o que talvez não seja um problema, já que o jogador provavelmente acabou de criar aquele clone. A situação fica um pouco entranha, entretanto, quando o jogador cria um clone, transfere a consciência do personagem para ele e deixa o corpo antigo para morrer.

Provavelmente isso deve passar batido para muita gente, já que, ao jogar algum video game, é bastante comum ver as situações que ele te oferece apenas como desafios em potencial, e não como situações concretas. Nesse raciocínio abstrato, o puzzle é um obstáculo, enquanto os clones e o swapper são as ferramentas para a solução. Por isso, é a coisa mais normal do mundo criar clones e mudar sua alma de corpo para poder progredir.

Entretanto, vamos parar por um momento para realmente ver o que está acontecendo, e não pensar apenas em termos de mecânica. Quando o jogador cria um clone, ele está criando uma exata cópia de um ser humano e, por isso, o clone também é humano. Isso fica ainda mais claro quando se trata de sacrificar o corpo que até poucos instantes abrigava a consciência do protagonista. Pode ser que ele não tivesse mais a consciência, mas ele estava vivo.

Por isso, cada puzzle em The Swapper é uma situação em que incontáveis mortes acontecerão, um sacrifício considerável para que a consciência do protagonista possa prosseguir dentro da estação espacial. Isso dá uma dimensão extremamente sombria ao jogo, que, para mim, poderia ser muito mais desenvolvida, mas que permanece apenas sugerida, provavelmente por conta do tom minimalista do jogo.

De qualquer forma, essa proposta ganha bastante destaque porque me parece muito inovadora e diz muito sobre o sangre frio com que o jogador opera durante as experiências nos jogos. São raros os momentos em que um jogo dá a oportunidade de pensarmos sobre o peso de uma morte. Quando acontece, é quase como um contraponto dentro de um jogo em que se mata livremente.

Em The Swapper, quase toda ação é a morte de um pedaço do protagonista. E essa é uma característica muito curiosa do jogo, porque, em grande medida, ele acaba falando de violência mesmo sendo um jogo sem nenhum combate. É um jogo menos sobre violência contra o outro do que contra si mesmo, por conta de desafios impostos pelo outro.

E, com isso, eu volto ao tema da identidade do ser na luta contra o outro. Em grande medida, a experiência de The Swapper é uma reflexão sobre o tamanho do sacrifício que alguém está disposto a fazer para conseguir manter sua identidade, seja lá o que seja de fato identidade. Pode ser ter a mente clara, pode ser se manter vivo. Isso fica muito claro na última cena do jogo, em que o jogador precisa fazer uma escolha em que há ganho e sacrifício, e em que esta pergunta é o centro: o quanto se pode sacrificar para manter a própria identidade?

Porém, mais do que no final, essa questão está na jogabilidade que atravessa toda a experiência. Por mais que, em The Swapper, o fundamental seja fazer a consciência progredir pela estação espacial, não é possível fazer a consciência mover-se sem o corpo, e o corpo é tão fundamental para si mesmo quanto a alma. E é o corpo que o personagem vive sacrificando.

Nesse sentido, The Swapper é um jogo que usa a ficção científica para tratar de uma questão psicológica muito interessante e atual, que é a necessidade de sacrifício no convívio entre uma pessoa e o mundo ao seu redor e, claro, até que nível de sacrifício é aceitável nesse processo. Tudo isso está refletido numa engenhosa construção dos mais diversos elementos do jogo, começando pelo visual e compreendendo a história e até as mecânicas.

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